Galere, tenho um pedido a fazer. Sei bem que esse blog não é meu e que, como tal, eu não posso fazer o que bem entender. Por isso, de tudo o que escrevo (o que não têm sido muito ultimamente), escolho o mais raso do mais raso pra postar aqui, como foi a proposta. Mas será que eu posso abrir uma exceção? É na falta de blog pessoal, mesmo. Talvez tenha quem diga, já que 3/6 dos convidados estão aqui, "mas, e o Impropício?". Então. Detesto aquilo lá. O layout foi trabalhoso (não parece, mas foi) e não consegui torná-lo tão simples como eu queria, as cores me desagradam, o formato me desagrada, e nunca vai servir pro tipo de coisa que boto lá. Faz tempo até que só posto pela home do blogger, e nem sequer entro na página. A quem esperava ver alguma coisa legal lá, só posso dizer que sinto muito (e é mentira, pois tenho dó mas nem ligo).
Mas é que de vez em quando sobra aquele post híbrido, que você morre de vontade de escrever, mas não cabe em lugar nenhum. Então, posso fazer um pequeno derramamento de verde-petróleo aqui? Prometo não abusar da hospitalidade.
Pois bem. Eu estou com um problema. Em uma palavra: Puta Que O Pariu, Hermann Hesse!
O Lobo Da Estepe me dá a sensação esmagadora de inferioridade, como se o autor tivesse acabado de esmigalhar todos os ossos da minha mão, retirado todas as idéias do meu cérebro, como o pó de merda que eram, feito uma faxina lá dentro e posto no lugar as dele. Comecei sublinhando o livro, até que desisti por completo; seria preciso rabiscar o livro todo! Caralho!
Talvez eu seja suspeita pra falar, já que é uma das histórias de solitários, e estas sempre encontram um caminho livre no meu coração. Seja o Grenouille d'O Perfume, ou Harry Haller desse livro, ou a Jenny, o amor de Jacques Thibault, talvez não a mais heróica das criaturas, mas eu, tão completamente eu que chega a ser assustador. E não importa se o personagem é bonito, feio, repulsivo, abjeto ou encantador. O solitário sempre vai ter um apelo tão grande pra mim que todo o resto é totalmente secundário, a identificação sempre surge num ponto muito antes do da forma como eles se apresentam em sociedade, é muito mais íntimo e primal. Menininhos andando por aí em loucas aventuras como em Extremamente Alto E Incrivelmente Perto me encantam tanto quanto mulheres que envenenam maridos com arsênico à la Thérèse Desqueiroux. Peer Gynt dando um azar do caralho na Noruega inteira e Julien Sorel sendo um tremendo filho da puta na França me são igualmente inesquecíveis, porque todos seguiam seu caminho seu caminho sem precisar de mais ninguém.
Mas não é como se esses fossem os únicos livros que dou valor. É mais como se, quando eu leio outras histórias, boas histórias de homens gregários, é com o fascínio de quem olha uma animal interessante, mas sabe que jamais poderia se sujeitar a um décimo da vida que ele leva. Talvez eu não seja a pessoa mais imparcial, se é que alguém pode ser imparcial com alguma coisa, pra falar sobre esse livro. Mas eu preciso, sabe? Porque nenhum outro é um Lobo da Estepe. Todos têm seu mérito pessoal, mas nenhum tirou meu sono e me deixou mandando ésseemeesses para pessoas aleatórias que eu achei que, ao menos em um décimo, poderiam sentir o prazer que tenho sentido ao ler esse livro. Infelizmente, não tem ninguém assim tão solitário entre as pessoas que conheço, daí me virei com quem tinha (e não é nem de longe uma crítica, acho que é sorte dessas pessoas não serem assim, sério), então precisava escrever isso em algum lugar, e não só nas minhas anotações febris e atrapalhadas. Não importa se ninguém vai entender ou comentar. Eu só precisava.
Pois a mim, parece que Hermann Hesse passou meus dois braços e minhas duas pernas num moedor de carne, fez uma lobotomia em todos os meus pensamentos como se estes fossem doenças pré-existentes e, ainda assim, a sensação é boa.
Fica aqui o desabafo.
Asterístico: Tenham a gentileza de não fazer trocadilhos infames com lobotomia. Não sejam vulgares. Grata.