quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Fé e contravenção

Na seqüência do Coni, presenciei algo do gênero hoje. Há mais ou menos duas semanas que chove sem parar aqui, arruinando as férias da galere. Mas como esse tempo cinza é o meu favorito, tô adorando. Chego toda ensopada e cheia de barro nos lugares, mas com um sorriso na cara. Nada daquele calor lazarento, daquele suor infeliz e aquele cansaço que você sente sem ter feito nada.

Hoje, no horário de almoço, tava vendo os turistas passarem, putos com a chuva. Entre o restaurante que eu tava e a igreja (sei lá eu que igreja é aquela, fica só "igreja" mesmo), havia um sujeito realmente feliz: um vendedor de guarda-chuva. Todo sorrisos, abriu sua vendinha clandestina ali, em plena Rua das Pedras, rua mais badalada da cidade. Vendia que nem água: capa, tem de cinco, e tem de oito, guarda-chuva de 10, 15, 20 reais, a patroa ficou louca, tem promoção e pra mocinha. Observei o sujeito uma boa meia hora, porque tava curiosa que tipo de estampa os fregueses escolhiam. A cada cinco que eram vendidas, pelo menos três eram da estampa de oncinha, meldels, haja breguice. Mas isso é detalhe.

O que me chocou foi que um cara apareceu lá, avisando, "Postura! Postura!". Rapidamente, o sujeito juntou suas sombrinhas e saiu batido dali.

Uns cinco minutos depois, um outro vendedor ambulante viu o espaço vago e resolveu parar um pouco pra sentar no banquinho e vender a partir dali, no ponto que o outro saiu. Não deu cinco minutos e baixou a tal postura: cheios de moral e autoridade, levaram todas as sombrinhas e capas de chuva do sujeito, ainda passando um sermão sobre o cumprimento da lei e do pagamento de impostos. O sujeito só faltou chorar, e foi embora de mãos abanando, sem sombrinha e humilhado.

Não tô aqui pra defender o comércio ilegal nem os camelôs.

Mas o fiscal de postura era o mesmo sujeito que foi lá avisar ao outro, o primeiro, que eles estavam chegando.

Porra. Muita sacanagem.

Saindo do trabalho, no fim do dia, ainda passei por lá, pra ver o mesmo, o primeiro sujeito, vendendo no mesmo lugar, faceiro que só. Se bobear, com a mercadoria do outro.

Vale um post asterístico? Não sei, mas me deixou com mó gosto ruim na boca. Vou lá falar com minhas miguxas na prefeitura pra me arrumarem umas sombrinhas, mas estampa de oncinha, francamente.

3 comentários:

Daniel Bastos disse...

Os japoneses não tem o costume de tirar os calçados antes de entrar em casa à toa. A sujeira do mundo escorre, mesmo invisível.

Rite disse...

Valeu um post sim.

Emnbora a vontade fosse que não valesse.

Êta Brasilzão! Êta humanidade! Cabe melhor.

Marconi Madruga disse...

FILHO DA PUTA!